POR DENTRO DA LEAL MOREIRA

O dia em que conheci Diego Koppe

“Faça o meu filho sofrer bastante.”

Foi exatamente isso que o pai do chef Diego Koppe pediu para o primeiro chefe do filho, então com 14 anos.

Conhecemo-nos na noite passada, no segundo jantar que Koppe realizou em Belém, a convite dos chefs Angela e Fabio Sicilia. Meio assustada com essa revelação e com a entrada (muito prematura e nem por isso insegura) do jovem (até hoje, rs) chef Diego Koppe no mundo mágico da Gastronomia, ele continuou a história – digna de um roteiro de filme.

“E eu sofri bastante. Passei três meses na pia, lavando montanhas de louça e substituindo algumas pessoas na cozinha, quando faltavam”, contou.

Mas voltemos um pouco esse filme, que é para entender que Koppe nasceu para ser chef. Diego é de Brasília e por conta das viagens constantes do pai, um funcionário público, passava férias com a avó, uma descendente de italianos, que morava no Rio Grande do Sul. “O perfume da cozinha dela era inesquecível. Havia os biscoitos de nata, spaghetti con piselli (espaguete com ervilhas) e um tortei de abóbora com bacon, cujos sabores nunca consegui reproduzir”, confessa. E foi com a avó que ele “engatinhou” nesse universo de sabores e sensações. Aos 13 anos, decidiu, após a mãe tê-lo matriculado em curso de culinária (“que durava apenas 3 horas”), que queria estar (e trabalhar) na cozinha.

Óbvio que o pai tinha outros planos para ele: uma carreira estável no funcionalismo público, tal qual ele mesmo tinha. E determinado a fazer o filho desistir, pediu ao amigo, primeiro empregador de Koppe, para fazê-lo sofrer bastante. Três meses depois do primeiro encontro [que reproduzi no começo deste texto], o pai e o chefe de Koppe se encontraram e veio o veredito: “ele não vai desistir e preciso dizer-lhe que ele é talentoso e tem futuro brilhante nessa área”. Aos 15 anos de idade, era o chef titular de cozinha do restaurante.

Não havia o que discutir. Ou melhor, não deveria haver o que discutir. Mas o velho pai ainda conseguiu fazer com que Koppe prestasse um concurso público e... fosse aprovado. “Passei para escrivão e consegui ficar naquele trabalho por seis meses”.

Decidido, ele abandonou o emprego e a convite de uma instituição de ensino superior de Brasília, ele foi montar o curso de Gastronomia e viajou para a Itália, para aperfeiçoar o conhecimento.

Pergunto qual a opinião dele em perceber que há uma “onda” crescente de jovens que desejam ser chefs de cozinha. Ele diz que espera que o modismo passe, porque só muito amor à cozinha pode justificar uma vida sem o aparente glamour. “Trabalho muitas horas por dia e se alguém me convidar para ir ao cinema, num final de semana, por exemplo, e pintar um compromisso, largo tudo pela cozinha”.

Alguns anos depois, é muito bonito [e igualmente prazeroso] ouvir a história de Koppe. Óbvio que não podia deixar de perguntar pelo pai dele. Simpático, ele ri e conta: “meu pai hoje trabalha comigo, tem uma mesa cativa no meu restaurante [Babel, em Brasília], onde uma vez por semana ele janta. O pedido é sempre o mesmo: carré de cordeiro com legumes salteados. E tem o vinho - La Joya”. E a mãe? “Também trabalha no restaurante”.

Angela Sicilia, chef anfitriã de Koppe em Belém [os dois ficaram muito amigos], se aproxima e, entre gargalhadas, pergunta: “você percebeu que ele é filho de vovó, né?”.

Não contei para ambos, mas eles saberão agora: “que bom, eu também” ;) (se você nunca leu essa história, clique aqui)

Diego Koppe e três perguntinhas que sempre desejamos fazer aos mais celebrados chefs:

Eu: Quando você não está trabalhando, ou seja, não por rigor, o que você mais gosta de comer?

Koppe: Picanha – amo picanha. Picanha grelhada e sanduíche. Qualquer um: queijo quente, misto...

Eu: Três ingredientes da culinária paraense que te encantaram...

Koppe: Só três?!?!? Catinga de mulata, cumaru e licor de jamburana.

Eu: O que te falta descobrir na cozinha?

Koppe: Tudo. Tenho 14 anos de profissão e não sei nada.


Comentário